Quando assisto aos jogos, tenho o hábito de olhar com muita atenção aos detalhes. Nos detalhes residem muitos segredos e sinais do que está acontecendo ou no que esta para acontecer. Logicamente, características dos jogadores, estratégias, movimentação, reações, linguagem corporal e tudo o mais que estão implícitos em nosso fantástico esporte, são relevantes. Com a experiência, consigo prever a tendência mais certeira do que poderá acontecer num jogo de tênis. Mas os detalhes que vejo e me chamam a atenção me fascinam.
É como se muitas vezes conseguisse decifrar o que passa na cabeça de um jogado. Isso me proporciona motivo de estudo e uma observação mais aguçada. Também treinando jogadores, adoro poder enxergar o momento que estão vivenciando, poder ir mais fundo auxiliando a enfrentarem seus obstáculos técnicos e psicológicos.
Mas uma coisa que me chama muito atenção e muito comum a todos no tênis é o futuro. Até aí normal, principalmente nos mais jovens na idade dos 14, 15 anos, momento de mudanças e início de grandes decisões. Tenho uma aluna muito inteligente, se chama Luiza e sempre me faz perguntas interessantes, inteligentes. Ela é muito reflexiva, até demais. Me fala que as vezes tem dificuldades para dormir. Brinquei e disse para contar carneirinhos até dormir, rs. Mas a Luiza me instigou a escrever essa matéria de hoje, admito.
Vamos lá!
Observando os 3 nomes mais relevantes do tênis nos últimos 3 anos principalmente, Federer, Nadal e Djokovic, houve momentos muito marcantes para mim. Muito longe de críticas pessoais, somente reflexão do que acontece.
Federer quando ganhou Wimbledon pela última vez no ano retrasado. Logo antes da cerimônia de entrega do troféu, chorava olhando seus filhos na arquibancada, demonstrando que passava um filme emocionante em sua cabeça, e depois comentando que era incrível pensar no que havia conseguido. Mas será que ele pensou, que havia conseguido tudo e se sentia satisfeito? Não sei.
Nadal, no ano passado em Roland Garros, quando passavam o filme de suas 11 conquistas, bem ao contrário de Roger, ficou com um rosto impassível, como procurando não se afetar pela homenagem, meio que “pessoal, estou aqui e ainda tenho muita coisa para fazer”. O foco estava estampado em sua face, parecia que se sentia incomodado pela homenagem precoce (talvez em sua cabeça). Foi treinado por seu tio a não se gabar por uma conquista e já estar preparado para a próxima. Admirável, como mesmo depois de varias lesões, consegue voltar até mais forte mentalmente para os jogos.
Djokovic foi um que me impressionou muito. Passou pelo inferno, claramente tendo dificuldades para enfrentar a situação do braço e as derrotas constantes, os problemas pessoais, dúvidas, decisões. Depois foi subindo degrau por degrau, com a cabeça focada no momento presente, em cada jogo na sua fantástica volta ao posto de número 1 do mundo. Djoko me passa muita tranquilidade e uma consciência solida do que vem acontecendo.
Momento presente. Que detalhe crucial pessoal.
Nos jovens que treino as perguntas sempre se referem ao futuro, e possíveis prognósticos. Como adoraria ter uma bola de cristal infalível, rs. Será que tem haver com o estigma, Brasil país do futuro? São expectativas, projeções, ansiedades com o futuro, às vezes longínquo.
Percebo que alguns jovens às vezes sentem-se até desanimados, olhando o caminho longo a percorrer. Um caminho que não existe ainda, e já desanimado? Talvez muita energia desperdiçada com o que não aconteceu ainda. Isso gera um stress desnecessário.

Vemos muito na mídia também, quando um jogador se destaca, começam as comparações e indagações a respeito do jogador e possível carreira de sucesso. Uma coisa tenho certeza. No tênis, tudo é construído no dia a dia, batida por batida. A energia deve ser colocada no agora. Tem que ser ensinado em todos os treinos, que cada momento, vivenciado na quadra, deve ser supervalorizado e prazeroso. Quando a energia é colocada no agora em todos os treinos, conseguimos potencializar o desenvolvimento e os resultados mais robustos.
Nessa vibe, o jogador irá aprender a valorizar cada ponto que joga, sua concentração estará sendo educada da maneira correta. Concentrar-se, não é ficar de cara fechada na quadra, mas sim ter a cabeça funcionando a favor do jogador no momento presente, nos detalhes do jogo.
Essa atitude auxiliará também, como filtro emocional, pois a cabeça estará ocupada corretamente. Sem duvida é um treino mental constante, uma vigília que tem que ser bem administrada e cultivada. Logicamente tem de ser feito um planejamento. Treinos, calendário, etc. Mas vamos sempre valorizar a única coisa que temos com certeza, e pensar talvez, por que se chama presente.
Abraços e até próxima.