O pai treinador no tênis

Peço antecipadamente minhas desculpas aos pais que pensam em treinar seus filhos e os que já tentam treinar seus filhos. Em todos esses anos no tênis como jogador e depois como treinador, nunca vi essa fórmula ter sucesso constante.

Posso enumerar algumas situações que presenciei. Situações improdutivas e muitas vezes beirando o absurdo:

  • Pais que maltratam seus filhos quando esse não performa como ele acha que deveria, inclusive com agressividade física, no juvenil e profissional, acreditem ou não. Inclusive com o pai sendo banido pela entidade organizadora, não podendo entrar no clube do evento e sendo obrigado a manter distância pela justiça. Presenciei casos no feminino e masculino, sem mencionar os personagens aqui.
  • Pais que tiram a água como punição.
  • Pais que entram na quadra e obrigam seus filhos a treinarem, mesmo que ficando óbvio a falta de vontade do jogador.
  • Também os casos de pais que se metem nos treinos e atrapalham o planejamento do treinador, pois acham que entendem e querem fazer prevalecer seus acho-metrôs.
  • Poderia enumerar diversas outras situações, mas vou ficar por aqui.

A razão por ter escrito no início “NUNCA VI ESSA FÓRMULA TER SUCESSO CONSTANTE”, foi pelos casos de jogadores atuais top estarem bem ranqueados e serem treinados total ou parcialmente pelos seus pais. Mais recentemente temos Zverev e Tsitsipas que são tremendamente influenciados pelos seus pais. É inegável que jogam um tênis de altíssimo nível, mas percebemos que esbarram em algum momento em situações relacionadas aos seus pais.

Fica óbvio que as linhas pai/treinador e filho/jogador se cruzam, e nesse momento, temos um tremendo choque de conflitos. O vínculo de pai/filho tem uma força gigante, é o maior vínculo que existe, seja de sangue, psicológico, emocional, que talvez perca somente ao vínculo de mãe/filho.

Desde a época de criança, o pai é o herói do filho, aquele que a criança deposita sua confiança e segurança. Ele é a pessoa que a criança espera que seja seu maior amigo por toda a vida. Lógico que isso não se pode generalizar, em alguns casos não se aplica. Mas, no geral, essa é a expectativa do filho.

Como o pai pensa que o jogador conseguirá separar esses papeis pai/treinador em uma hora de extrema pressão onde o jogador se perde na quadra? O treinador pode brigar nos treinos, realmente exigir o necessário, está no seu papel. O pai, tem que ser o amigo, apoio emocional, motivador, fora da quadra.

A pressão no circuito profissional é enorme, e o apoio da família é fundamental. Ter o lugar físico e emocional onde o jogador volta para casa é importantíssimo. Exemplos de Federer, Nadal, Djoko, onde suas famílias são presentes, mas existe a figura do técnico, são perfeitos.

Stefanos Tsitsipas 2020 ATP Cup pai treinador

Pudemos presenciar recentemente, Zverev e Tsitsipas que em momento de pressão, tiveram atitude como um tipo de briga, vingança contra seus pais. Derramaram sua raiva em cima deles como descarregando sua frustração, pela situação não estar acontecendo como queriam. Tipo “VOCÊ ESTÁ VENDO? O QUE VOCÊ DISSE NÃO ESTÁ ACONTECENDO!”.

Penso principalmente no caso de Zverev, na minha visão é o mais grave, em situações de pressão vem demonstrando atitudes de medo, desequilíbrio e infantilidade. Muitas vezes age com total falta de decisão, falando, reclamando sempre em direção ao pai. No caso dele já se tornou uma constante infelizmente.

O tênis exige coragem, decisão própria em fração de segundos, rapidez de raciocínio, segurança, determinação, capacidade de reação, muita força de vontade e muita maturidade.

Talvez o que esteja faltando para completar esses jogadores, sejam os pais deixarem o papel do treinador/filtro assumirem as fortes exigências em quadra por completo, fazendo que enfrentem seus obstáculos, desafios. Que possam bater suas asas e conquistar os céus assumindo totalmente as responsabilidades.

Vamos acompanhando e torcendo.

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