Existe fórmula magica para se aprender a jogar tênis?

Dominic Thiem (AUT) in the competitors warm up area before practice at The Championships 2019. Held at The All England Lawn Tennis Club, Wimbledon. Day -5 Wednesday 26/06/2019. Credit: AELTC/Thomas Lovelock.

Nesses meus 50 anos de tênis o tênis evoluiu muito em vários aspectos.

Na ciência esportiva foi incrível: alimentação, suplementação. Ainda é uma constante sempre com inovações. Nos exercícios físicos com os funcionais, exercícios de coordenação, desenvolvimento de reflexos, recuperação dos atletas em competições, fisioterapia. É realmente incrível como evoluí a cada dia.

Me lembro quando eu tinha uns 14 anos e ouvi a primeira vez falar de alongamento. Trabalhava minha força, resistência, principalmente quando treinei a parte física, com o mestre Nuno Cobra. Aprendi muito nessa época.

Lembro como se fosse hoje, treinando com o querido Paulo Cleto, quando fomos jogar o Orange Bowl nos EUA, Paulo me chamava atenção de como eu era duro e pediu que comprasse um livro do Bob Anderson (ainda atual) sobre alongamento. Lá ia eu ficar horas todos os dias tentando ficar mais alongado, no que realmente me ajudou.

Andy Murray Aquecimento Wimbledon 2091
Foto: AELTC/David Gray

Hoje em dia, os profissionais se dedicam com muito afinco na parte física que evoluiu muito, determinante nos resultados. A movimentação em quadra evoluiu exponencialmente nos últimos 20 anos. A transferência de peso usando o footwork, muitas vezes saindo do chão é uma constante, movimentação lateral muito mais rápida e eficiente cortando os ângulos.

Os profissionais estão jogando mais em cima da linha, e jogar muito atrás da linha de base, muitas vezes não é a melhor opção. Assistindo jogos de 20, 30 anos atrás, muitas vezes parece câmera lenta, 40 anos então, nem se fala.

Na quadra os drills, os vários treinos dirigidos e a maneira de treinar precisam ser observados com cautela. O uso dos cones e outros aparatos têm de ser usados corretamente para a evolução da movimentação. A formação solida da base e desenvolvimento dos golpes de um jogador, são delicados e exige muita sensibilidade e conhecimento.

A ênfase no saque é prioritária, aprendendo a usar adequadamente as alavancas. O saque principalmente no masculino é crucial para bons resultados. Vejo demais aqui no Brasil, que o saque é deixado sempre meio negligenciado no ensino. Os golpes de forehand, backhand, voleios, enfim, movimentos de braço e desenho dos golpes, obrigatoriamente necessitam passar por importantes etapas de consolidação e desenvoltura.

Não acredito em fórmulas mágicas nesse aspecto. No início, uma empunhadura tradicional, como a eastern de forehand e backhand para batidas de fundo e intermediaria para voleios é requisito básico para quem está começando, sentir a bola, a batida solida nas cordas. Chegar à batida gostosa que ecoa na raquete é fundamental.

Enfatizar a mecânica dos movimentos de braço, giro de cintura, uso do balanço dos joelhos para apreender o topspin natural, entender e sentir a somatória das alavancas para se chegar a um resultado satisfatório é crucial. O tênis não é força e sim a capacidade de aceleração, sem perder a soltura. Só assim se conseguira velocidade com o tempo.

Novak Djokovic Aquecimento Wimbledon 2019
Foto: AELTC/Florian Eisele

Escuto às vezes de pessoas comentando; mas o Federer bate assim, o Nadal bate assado, O Djokovic usa o punho desse jeito… O que essas pessoas não estão levando em consideração é que esses fenômenos, bem como vários outros jogadores de alto nível, passaram no mínimo de 8 a 10 anos desenvolvendo seus golpes, cada um com suas características e particularidades, para chegar no ponto que estão.

Tiveram técnicos que com sua sabedoria e sensibilidade, foram observando e balizando esses jogadores, para que preservando suas características, mantivessem o que era funcional e procuraram não deixar resíduos de técnicas que poderiam prejudicá-los nesse processo, chegando ao máximo de suas potencialidades.

Ahhhh, o certo então é a empunhadura western. Porque fulano usa tal empunhadura. Nãoooo, por favor. A empunhadura western funciona para aquele jogador. Não significa que funcione para você. Cada pessoa tem um biotipo diferente, força, flexibilidade, coordenação própria. Lógico que entra a pitada especial da personalidade, inteligência emocional de cada um, muitas vezes uma grata surpresa que vai se revelando.

Cabe ao treinador técnico enxergar o que funciona conforme o jogador se desenvolve. Pode ser extremamente danoso, inclusive levando a possíveis lesões que se force um iniciante bater, usando o punho em demasia ou o cotovelo inadequadamente.

Serena Williams Venus Williams 2019 Wimbledon Treino
Foto: AELTC/Tim Clayton

No caso do punho, no início não se deve enfatizar. Com o tempo, soltura do braço e adquirindo confiança, o punho entrará naturalmente, na medida de cada um, sem que seja necessário enfatizar seu uso. Mais uma vez cabe a observação do técnico nesse aspecto.

Mais adiante, já no alto rendimento, caberá o uso do punho em algumas situações especificas, ex: abrindo ângulos na troca de bolas. Mas por favor, iniciantes não. Ele não sentirá a batida, será prejudicial, limitando muito o desenvolvimento dos golpes.

Respeitem cada degrau do processo de evolução no tênis, superando cada vez mais seus limites, descobrindo o quão longe você poderá chegar com suas próprias características e mecânica adequada.

Saiba escolher um bom técnico.

Um abraço e até a próxima.

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