Há muito tempo venho acompanhando a novela que não termina e com poucos finais felizes para a formação de um jogador. Vemos as crianças competindo desde pequenos e a paixão principalmente dos pais por ver seus filhotes vitoriosos, técnicos falando todo tipo de coisa aos pequenos para o caminho da vitória.
Outro dia um aluno me perguntou o que acontece que não vemos mais grande quantidade de jogadores juvenis e possíveis profissionais, e que pensava que o tênis brasileiro estava falido. Também fui assistir a um torneio estadual e fiquei assustado com o pequeno numero de inscritos em todas as categorias.
Apesar dos esforços da CBT, que penso agora estar no caminho certo realizando parcerias com federações estrangeiras com tradição no tênis, além de outros projetos e iniciativas de outras pessoas, na minha visão, vai demorar uns 7 anos ou mais se for feito um trabalho de qualidade.
LEIA TAMBÉM
Artigo por Rodrigo Serrano:
+ A importância da preparação física para tenistas
Mas penso que a maneira de conduzir a formação das crianças e jovens jogadores deveria mudar. Não acho saudável colocar uma criança pequena de 9 ou 10 anos competindo direto. Penso que nessa idade a medida ideal seria jogarem 1 torneio por mês. Treinos junto com outros amigos da mesma idade, com pequenos jogos treino e amistosos divertidos, onde eles sintam prazer em jogar tênis. Também pratiquem mais esportes para ampliar sua coordenação motora e não restringindo somente ao tênis, isolando sua cabecinha.
A criança além de aprender a jogar tem que ir se adaptando gradativamente a situação de pressão. Não deve ser exposta com intensidade logo de cara. A pressão na tenra idade tolhe a desenvoltura do jogo. O desenvolvimento dos golpes, com soltura, as diferentes velocidades de batida, a intimidade com as dimensões da quadra, o desenvolvimento da movimentação em quadra, devem ser priorizados.
O competir muito, logo pequeno, pressiona por vitórias e faz muitas vezes que a criança tenha medo de bater na bola para não errar, ou pior, que tenha o gosto de ganhar somente colocando a bola para o outro lado, e pior ainda, que os técnicos ou os pais falem para ele somente colocar a bola para o outro lado para ganhar. O jogador vai assim aos 9, 10, 11, 12, 13 anos e dai quando tiver 14, 15, 16 anos terá que bater na bola. Mas como? Ele ganhou vários anos colocando a bola na quadra e agora terá que bater e arriscar mais?
Se fosse conduzido de forma diferente, fazendo que jogue com desenvoltura, jogando com qualidade, dando ênfase ao entendimento do que acontece na quadra, independentemente de resultados, entendendo que resultados são a consequência de um bom trabalho e não a vitória a qualquer custo, a história tem maiores chances de possível sucesso. A atitude se estenderá não só para o tênis, mas será um aprendizado para toda a vida. Trabalho constante, bem feito é a chave, e não o imediatismo.
Vamos observar a Rússia e diversos países do leste europeu onde estão surgindo diversas revelações do circuito profissional masculino e feminino. Eles desenvolveram um sistema de treinamento para todos os esportes, onde sabem o esporte alvo da criança, mas praticam vários outros esportes simultaneamente para o desenvolvimento motor e mental do jovem. Somente com 14 anos focam somente no esporte alvo com maior intensidade. A chance de o jogador estar formado em sua base e preparado para maiores voos e competições será muito maior.

É importante que os jovens tenistas sintam a pressão como estímulo e não sofrimento, que eles entendam o processo e que isso esteja amadurecido dentro deles. Assim poderão jogar e enfrentar seus futuros desafios sempre com prazer, vontade de evoluir e conquistar seu espaço. Penso que temos que dar um passo nesta direção, mudar a maneira de ver a formação dos futuros atletas e talvez colheremos maiores frutos.
Me despeço de 2018, com muita coisa realizada e mais de 90 colunas escritas. Agradeço o carinho de todos, os comentários e curtidas. Ansioso para que venha 2019 com muitas novidades e esperançoso por nosso amado esporte.
Grande abraço e ótimas festas!