Baixo desempenho em Grand Slam é o teto para a NextGen chegar ao número #1 do mundo

Foto: AELTC/ Thomas Lovelock

Desde a origem do termo NextGen tenho me dedicado cada vez mais a acompanhar os novos talentos que surgem dia após dia no circuito da ATP. É bacana ver o apoio da organização dos torneios aos novos talentos, ainda mais se pensarmos que em poucos anos teremos as aposentadorias de Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray, quarteto que dominou a modalidade na última década. .

Acho interessante tocar nesse assunto na estreia de minha coluna no Blog Edu Oncins uma vez que na última semana acompanhamos a impressionante campanha do croata Borna Coric no Masters 1000 de Xangai, onde ficou com o vice-campeonato. Responsável por eliminar Federer na semi, ele vem mostrando grande evolução e por conta disso bateu sua melhor marca, o décimo terceiro lugar, na última atualização do ranking. Seu talento, claramente visto em seu estilo versátil e atlético, além de seu potente saque, me fez imaginar um possível futuro onde o natural de Zagreb se tornaria o número #1 do mundo.  Vejo nele um grande potencial e acredito que se mantiver o profissionalismo não demorará a escalar lugares no top 10.

20180902 Juan Martin Del Potro v Borna Coric  - Day 7
Foto: USTA/Garrett Ellwood

Além de Coric, uma série de outros tenistas me despertaram esse mesmo sentimento de “conforto” em entender que o ATP World Tour ficará em boas mãos após a aposentadoria do “Big Four”. A mais óbvia escolha é a do alemão Alexander Zverev, ex-top 3 e dono de um dos serviços com maior potencial de dificultar a vida do adversário, além de um eficaz forehand. O talento puro visto no canadense Denis Shapovalov e a mistura de paz interior com força arrasadora do grego Stefanos Tsitsipas também me cativam no mesmo nível. Todas essas lembranças me fizeram pensar no porque deles não estarem brigando diretamente com Nadal, Federer e Djokvoic pela ponta do ranking. A resposta para isso pode ser difícil, mas minha hipótese é simples: falta de bons (e constantes) resultados nos torneios da série Grand Slam.

Aqui, um pequeno parênteses. Sei que chega a ser injusto comparar jogadores que saíram há pouco do juvenil com lendas já consagradas do esporte. Entretanto, é preciso encarar os jovens como os atletas de alto nível que são e tentar encontrar as razões exatas para essa grande distância de pontos.

E essa dificuldade acaba não atingindo apenas eles, como também de outros promissores jogadores da nova safra, como o trio russo de Andrey Rublev, Karen Khachanov e Daniil Medvedev. Dos citados, o caso mais gritante é justamente o de Zverev. Apontado por muitos como “o cara” da nova geração, o germânico soma campanhas decepcionantes em torneios deste nível.

Dono de três títulos de Masters, Sascha nunca venceu um tenista presente no top 30 durante um Slam. E mais: sua melhor campanha em Majors é somente as quartas de final, alcançadas uma única vez, na edição deste ano de Roland Garros. Muito pouco para alguém de seu talento. Felizmente, ele mesmo parece ter percebido isso e anunciou há pouco menos de dois meses a contratação da lenda Ivan Lendl para o auxiliar no amadurecimento de seu tênis.

Amadurecimento talvez seja a palavra certa definir também o que precisa Shapovalov, canadense de apenas 19 anos. Nele, vejo uma força interior grandíssima, um ímpeto que quando plenamente ativado será difícil de ser parar. Seu backhand canhoto de uma mão, golpe citado frequentemente em minha conta no Twitter e no Podcast da Revista Tênis, é uma arma extremamente fatal.

20180831 Denis Shapovalov v Kevin Anderson - Day 5
Foto: USTA/Andrew Ong

O problema é que o natural de Tel Aviv, em Israel, tem um perfil muitas vezes instável. Ora por conta de um suposto erro do juiz, ora por falhas próprias, Denis perde a cabeça, reclama e sai do jogo. Não foram poucas as oportunidades em que ele vencia a partida, mas se descontrolou e deixou escapar a chance de seguir em frente. Curiosamente, ele levou viradas em suas últimas quatro eliminações em torneios do Grand Slam. Confira, na sequência:

  • Australian Open: Venceu o primeiro e o terceiro set, mas levou a virada do francês Jo-Wilfried Tsonga por 6/3, 3/6 6/1 6/7 (4-7)5/7.
  • Roland Garros: Venceu o primeiro set, mas levou a virada do alemão Maximilian Marterer por 7/5, 6/7 (4-7), 5/7 e 4/6
  • Wimbledon: aplicou um “pneu” no francês Benoit Paire, mas acabou derrotado com o placar de 6/0, 2/6, 4/6, e 6/7 (3-7)
  • US Open: esteve um set a frente do sul-africano Kevin Anderson, mas acabou derrotado em cinco sets com o placar de 6/4, 3/6, 4/6, 6/4 e 4/6

Resultado de tudo isso? Eliminações na segunda rodada nos três primeiros e nas pré-oitavas do Aberto dos Estados Unidos. O psicológico é ainda uma questão a ser trabalhada diariamente na cabeça de Shapovalov. Bola não falta.

Quanto ao grego Tsitsipas, é preciso considerar seu ranking ao início da temporada, de 90ª, e o atual, de 16º. De fato, esta é sua primeira temporada convivendo com um rápido estrelato. Sua excepcional campanha no saibro de Barcelona, onde enfileirou vitórias sobre nomes conhecidos por dominar o piso, como o argentino Diego Schwartzman, os espanhóis Albert Ramos-Vinolas e Pablo Carreno Busta e o austríaco Dominic Thiem, o colocou em um patamar nunca dantes visto em sua carreira.

20180829 Daniil Medvedev v Stefanos Tsitsipas - Day 3
Foto: USTA/Andrew On

Mesmo com outras campanhas brilhantes e sua rápida ascensão no circuito, ele caiu na R2 nos Abertos da França e dos Estados Unidos e parou nas oitavas de Wimbledon. Um dos fatores de sua queda de rendimento pode ser justamente um possível deslumbramento com o mundo novo apresentado com a fama. Não creio que isso voltará a atrapalhar no futuro.

Por fim, volto ao precursor deste bate papo, Coric. O croata foi o primeiro dos quatro citados a aparecer como esperança de renovação no circuito, já em 2014, ano em que se ganhou o ATP Star of Tomorrow por ser o mais jovem tenista no top 100. De lá para cá ele oscilou entre bons e maus momentos, mas deslizou com frequência nas quatro principais competições da modalidade. Destaque para as quatro eliminações seguidas na R1 do Australian Open entre 2015 e 2018, mas vale citar as derrotas na 3ª rodada em Roland Garros (2015, 2016 e 2018) e apenas a segunda rodada alcançada na grama britânica do AELTC. Recentemente, em Flushing Meadows, ele parou nas oitavas e conquistou sua melhor campanha em torneios deste nível.

Tenho em mim plena confiança no potencial do quarteto acima citado. Sei que com o tempo eles irão adquirir a experiência necessária para brilhar também em partidas de cinco sets. Isso provavelmente acontecerá no máximo entre o final da temporada 2019 e o meio de 2020. Nesse ponto, as novas forças já deverão controlar as primeiras posições do ranking. Hoje, entretanto, eles precisam ralar (e muito!) para desenvolver o aspecto mental, essencial em partidas de cinco sets.

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