A importância do racional com foco durante os treinos

Em 1978, logo depois de ter jogado o Orange Bowl, tive a oportunidade de passar duas semanas no
Harry Hopman Tennis Academy, perto de Tampa, na Flórida.

A mesma academia depois veio a se chamar Saddlebrook Tennis Academy.

Mas na época que era do velhinho Hopman, senhor que naquela época já beirava perto do 70
anos, o treino era pesadíssimo e frequentado por vários tenistas profissionais da época.
Harry Hopman, australiano famoso por ter sido técnico da Davis Cup Australiana na época de
Rod Laver, Lew Road, Ken Rosewall, era um mito e acreditava piamente num forte preparo
físico para jogar tênis.

O treino consistia em acordarmos às 6h30 da manhã e ir correr 8 quilômetros no campo de
golfe, seguido de café da manhã e início na quadra às 8h00. O treino ia das 8h às 12h00, break
para almoço até às 14h00, onde iniciávamos os treinos da tarde com termino às 17h00.

Uma infinidade de drills (exercícios repetitivos), com bolas lançadas por um instrutor que
praticamente nos matava, sem correção de técnica ou estratégia. Era 1, 2, 3 e correria até cair
na quadra. Uma intensidade absurda, inclusive com alguns garotos vomitando na quadra de
vez em quando.

Na época tive o prazer e honra de dividir a quadra treinando junto ao equatoriano Andrés
Gomes(posteriormente venceu Roland Garros) e Vitas Gerulaitis (jogador que foi Top 10 e um
dos mais rápidos da época), entre outros.

Hopman e Gerulaitis

O velhinho ficava andando com seu carrinho de golfe e quando parava em alguma das 50
quadras ou mais (não lembro exato), a turma congelava pois ele pegava a raquete e desferia
bolas rapidíssimas e se algum jogador não chegasse na bola, pagava com castigos fazendo
vários pulos de canguru.

Como sempre amei treinar, inclusive após os treinos do dia, combinava com jogadores amigos
argentinos para jogar sets, sai de lá após duas semanas de treinos voando baixo.

Mas como sempre questionava o que via e analisava tudo, fiquei encafifado com o fato da
parte estratégica e correções técnicas que não aconteciam.

Nessas duas semanas treinando lá, observava alguns jogadores que como eu após os treinos
jogavam sets, mas não batiam na bola como haviam treinado. No treino era bordoada para
todo lado e no jogo completamente diferente na maioria dos casos. Essa atitude me
incomodava e passei a observar minhas próprias atitudes durante os treinos.

Percebi como era importante colocar minha mente e foco nas milhares de bolas que batia
durante as praticamente 8 horas que ficávamos na quadra.

No meu caso, com todo o ritmo que adquiria nos treinos tentava racionalmente replicar o que
realmente sentia que havia melhorado.

Percebi que meus reflexos melhoravam mais e a regularidade das trocas de bola evoluíam.
Com o passar dos dias, com esse mind set, percebi que também já não precisava me preocupar
com os golpes e pernas, que estavam confiantes, rápidos e que tinha tranquilidade para
raciocinar na estratégia que iria adotar jogando.

Toda essa história que contei da minha experiencia acima, levei para quando comecei a treinar
jogadores.

Sempre cobro muito que pensem no que estão fazendo durante os treinos. Não adianta bater
a bola por bater e a cabeça não estar la em cada golpe. Se a cabeça não estiver no treino,
quando for o momento do jogo, a cabeça não estará no lugar certo, que é focar nos momentos
do jogo.

Se coloco meu foco em cada golpe no treino, é como se essa preocupação estivesse resolvida,
e no jogo, não precisarei pensar no golpe em si, e sim no que devo fazer com o golpe em
termos estratégicos.

Experimentem e verão os resultados.

Procurem não treinar simplesmente batendo milhares de bolas em seus drills(exercícios
diversos em quadra), sem estar consciente do golpe, o que está sendo feito e para que serve.
A cabeça tem que ser muito treinada principalmente no dia a dia dos treinos e não para
funcionar somente quando do jogo.

Caso não coloque sua cabeça nos treinos e somente procurar colocar quando dos jogos, você
não terá tranquilidade e sim preocupação pois não será uma coisa habitual para você.

O hábito se constrói no dia a dia de treinos, inclusive e principalmente da cabeça.

Espero que minha história pessoal e dica os ajudem em seus próximos treinos.

Abraços e até a próxima!

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